O evento da Secretaria Municipal de Educação contou com exposições de trabalhos dos alunos da rede, rodas de conversa, dança e muita resistência, na quadra da Unidade Santos Dumont, em Engenheiro Pedreira
A Semana da Consciência Afro-brasileira e Indígena 2024, promovida pela Prefeitura de Japeri, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), teve início nesta terça-feira (26), na quadra da Escola Municipal Santos Dumont, em Engenheiro Pedreira. Abrindo a mostra, os alunos do 7º e 8º ano da unidade Professora Etiene de Souza rasgaram o racismo em uma apresentação que fez a plateia pedir bis. A programação contou ainda com exposições, rodas de conversa e distribuição de canjica.
Segundo a diretora de ensino, Gisele Carla, que representou a secretária de Educação, Caroline Ontiveros, no evento, a mostra contou a história da Consciência Negra pelo olhar dos alunos da rede pública de ensino de Japeri. “Agradeço a todas as unidades, aos gestores e professores, em nome da Semed, que apresentaram essa temática tão sensível para os nossos alunos. Agradeço por terem feito isso de forma tão envolvente, despertando a criatividade e a vontade de aprofundar-se na história. Não é apenas uma obrigação das leis nº 10.639 e nº 11.645, mas também a motivação de todas as unidades participarem, da educação infantil ao segundo segmento do ensino fundamental. Estou encantada com tantos trabalhos maravilhosos”, relatou.
O respeito, a cultura, a resistência, a força, o diálogo, a consciência, a potência, a diversidade e o orgulho foram expostos em arte, debatidos e representados nos trabalhos, despertando nos alunos questionamentos e motivando posicionamentos, como o de João, da Escola Bernardino de Melo, que destacou o tema da musicalidade e como seu grupo identificou as críticas sociais nas melodias do samba e do funk. “No nosso trabalho destacamos a música, o samba e o funk, onde as críticas sociais aparecem e refletem o pensamento de gerações. Escolhemos as artistas Alcione e Ludmilla, que nos ajudam a reconhecer quem somos e a identificar nossa ancestralidade”, relatou.
A professora Sheila Portela, da unidade Aristides Arruda, compartilhou sua experiência de 24 anos como docente na rede municipal e como vê o tema sendo tratado atualmente, superando a eugenia, ciência que buscava provar que a capacidade intelectual era hereditária, onde o cérebro do negro era considerado inferior e, assim, se justificava a exclusão dos negros e de outros grupos.
“Foi com a lei nº 10.639 que a história do africano e do negro brasileiro entrou pela primeira vez pela sala e não pela cozinha. Eu, na minha época, não vivi essa construção. Naquele tempo, ele era chamado de escravo e não escravizado. Por isso, vejo que é preciso resgatar essa identidade. Só quando você sabe de onde veio é que se identifica, se reconhece e se autodeclara. E, consequentemente, quando questionado, saberá dizer de peito aberto quem é. Para isso, essa aprendizagem precisa ser constante e curricular”, afirmou.
A gestora da Escola Municipal Etiene, Simeia Gerarhard, falou emocionada sobre como percebe a descoberta dos alunos por meio da arte e da expressão. “Eles mergulharam na arte da dança e da pintura, e isso fala muito sobre descobrir quem são. Estamos muito felizes com esse caminho”, relatou.
Os segmentos maiores trabalharam ainda com máscaras africanas, cabelos afro, comidas, artesanato, enquanto a educação infantil abordou a diversidade e os contos Cabelo de Lelê e Menina do Laço de Fita.
Apresentações de dança, roda de conversa e exposição de trabalhos
Os alunos do 7º e 8º ano da Escola Municipal Professora Etiene de Souza, sob a orientação da professora Monique Serenado, deram início à Semana da Consciência Afro-brasileira e Indígena 2024, com uma performance de dança ao som da música “Voz da Resistência”, da cantora Negra Li. Com essa apresentação, o grupo simbolizou a luta contra o racismo, marcando o começo das atividades da programação, que incluiu exposições, rodas de conversa e distribuição de canjica. “Assim que a professora fez a proposta topamos direto e por causa do feriado só tivemos dois dias para ensaiar. Mas, foi ótimo”, disse a estudante Jennifer Vitória.
A roda de conversa foi mediada pela coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Município de Queimados e mestre em educação pela Unirio, Giselle Maria, que incentivou a participação dos alunos ao lado da doutora em Educação pela UFRRJ e indígena Tuíre, Katia Zephiro; e de Alfredo França, professor de História com extensão em Filosofia e Sociologia, além de pesquisador e entrevistador do projeto Olhar Nordestino: Cultura Imaterial Nordestina na Baixada Fluminense. “É muito bom ver essas paredes repletas de trabalhos e do orgulho da nossa gente. Eles estão dizendo: ‘Sai da minha frente, que eu estou passando com a minha cor'”, definiu Giselle.
Os palestrantes Giselle Maria, Katia Zephiro e Alfredo França
A Escola Municipal de Educação Infantil Marco Antônio Félix Pereira, inaugurada em abril deste ano, levou artesanato, trabalhos do livro ‘O Pequeno Príncipe Preto’, e confeccionou seu próprio exemplar, feito no Projeto Identidade: Minhas Raízes, no qual os próprios alunos identificaram suas raízes, a cor da pele e perceberam que, apesar das diferenças, todos têm a mesma origem. Dentre os trabalhos das Escolas do Campo, a unidade Rio D’Ouro levou o conceito da expressão do reconhecimento adquirido nas aulas de História e Arte. “Eles expressaram nas artes, com muito carinho, o conhecimento adquirido e um novo olhar, mais consciente e com muito respeito à história”, explicou a gestora, Rita de Cássia.
Os alunos da Escola Célia Sobreira, do bairro Alecrim, levaram as cartas feitas para a escritora Conceição Evaristo, no projeto ‘Diálogos com a Diversidade: Conhecer, Aprender e Respeitar’, idealizado pelos alunos das turmas de 8º e 9º ano, com o apoio dos professores, Thiago Dutra, Leonardo Maciel, Marta Bento e Rosany Soares. Eles relembraram os momentos que passaram ao lado da escritora, que os recebeu e doou livros autografados para a unidade.
As 34 escolas da cidade enviaram trabalhos para a mostra, que também acontecerá na Escola Municipal João XXIII.
Fotos: Samuel Sant’anna
